Metalúrgicos mobilizam-se em Itália

<i>Fiat</i> ataca direitos e liberdade sindical

A ad­mi­nis­tração da Fiat de­cidiu ex­cluir a fe­de­ração sin­dical mais re­pre­sen­ta­tiva dos me­ta­lúr­gicos (FIOM-CGIL), por esta se ter re­cu­sado a as­sinar um acordo que ar­rasa acordos de em­presa e a pró­pria con­venção na­ci­onal vi­gente no sector.

Sin­di­cato con­voca greve contra «acordo» an­ti­la­boral

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O cons­trutor au­to­móvel ita­liano de­sen­ca­deou uma ofen­siva an­ti­la­boral sem pre­ce­dentes, im­pondo, através de um si­mu­lacro de ne­go­ci­ação, o «acordo» adop­tado em me­ados de 2010 na uni­dade de Po­mi­gliano, ao uni­verso dos cerca de 86 mil tra­ba­lha­dores que la­boram em Itália.

Para levar a cabo o seu plano, a ad­mi­nis­tração li­de­rada por Sergio Mar­chi­onne de­cidiu des­vin­cular-se da con­fe­de­ração pa­tronal ita­liana, a Con­fin­dus­tria, li­ber­tando-se assim das con­ven­ções co­lec­tivas que re­gulam todo o sector.

Mas foi ainda mais longe. Face à po­sição firme de re­cusa do acordo da Fe­de­ração dos Ope­rá­rios Me­ta­lúr­gicos (FIOM-CGIL), a Fiat de­cidiu também ex­cluir esta es­tru­tura sin­dical do leque de sin­di­catos ad­mi­tidos nas uni­dades do grupo.

Assim, desde o início do ano, os tra­ba­lha­dores da Fiat estão proí­bidos de se ins­cre­verem na FIOM, e caso o façam ou de­cidam manter a sua fi­li­ação, a em­presa afirma que não irá pro­cessar as res­pec­tivas quo­ti­za­ções sin­di­cais.

Num ataque aberto à li­ber­dade de as­so­ci­ação, os tra­ba­lha­dores estão igual­mente im­pe­didos de eleger re­pre­sen­tantes fi­li­ados na­quela fe­de­ração, ao mesmo tempo que sentem au­mentar as dis­cri­mi­na­ções e até ame­aças de des­pe­di­mento contra os que per­ma­necem fiéis ao seu sin­di­cato.

 

Di­reitos de­mo­lidos

 

Es­cu­dando-se no acordo ob­tido com ou­tras es­tru­turas sin­di­cais em 13 de De­zembro, a ad­mi­nis­tração do grupo, que con­tinua a ser pro­pri­e­dade da po­de­rosa fa­mília Ag­nelli, co­meçou a impor con­di­ções de tra­balho sem pa­ra­lelo em Itália.

O re­gime de turnos prevê 18 ho­rá­rios di­fe­rentes que po­derão ser apli­cados a qual­quer mo­mento aos tra­ba­lha­dores sem ne­ces­si­dade de ne­go­ci­ação. As horas su­ple­men­tares obri­ga­tó­rias podem chegar às 200 por ano, o que na prá­tica equi­vale a um mês de tra­balho. As pausas de dez mi­nutos são eli­mi­nadas e as re­fei­ções re­me­tidas para o final de cada turno.

Se­gundo alerta a FIOM, as pro­messas de me­lhores sa­lá­rios são um en­godo para en­ganar os tra­ba­lha­dores. Na ver­dade, a re­mu­ne­ração bruta mantém-se inal­te­rada e será acres­cida apenas em função do nú­mero de horas ex­tra­or­di­ná­rias e do au­mento dos turnos. Também o prémio de 600 euros anun­ciado para este ano só será pago em função da as­si­dui­dade efec­tiva, que não po­derá ser in­fe­rior a 870 horas em cada seis meses, con­si­de­rando-se como ab­sen­tismo baixas por aci­dentes, do­ença, ma­ter­ni­dade, do­ação de sangue, folgas e pausas, greves, etc.

A Fe­de­ração sa­li­enta ainda que o novo re­gu­la­mento re­voga todos os acordos exis­tentes em cada uni­dade, sem con­sulta aos tra­ba­lha­dores, li­mita o di­reito de greve ou de ficar do­ente, eli­mina na prá­tica a ne­go­ci­ação sobre a or­ga­ni­zação do tra­balho e horas su­ple­men­tares, e trans­forma os de­le­gados sin­di­cais em con­tro­la­dores das re­gras da em­presa.

Re­a­fir­mando que não pres­cinde da con­venção co­lec­tiva na­ci­onal e dos con­tratos as­si­nados ao nível de cada em­presa, a FIOM-CGIL já con­vocou uma greve para dia 9 de Ja­neiro em todas as uni­dades da Fiat e está a pre­parar uma grande ma­ni­fes­tação na­ci­onal em Roma para 11 de Fe­ve­reiro.



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